Aristides de Sousa Mendes recebeu Honras de Panteão
Cultura

Aristides de Sousa Mendes recebeu Honras de Panteão

“Não poderia agir de outra forma e assim aceito tudo o que me aconteceu com amor.”
"Não poderia agir de outra forma e assim aceito tudo o que me aconteceu com amor.”

Palavras de Aristides de Sousa Mendes, diplomata português que, durante a IIª Guerra Mundial, salvou mais de 30 000 vidas da perseguição nazi, concretizando a maior ação de salvamento efetuada por uma pessoa individual.

Enquanto cônsul de Bordéus, em França, nomeado por Salazar em 1938 após passagem por várias outras delegações diplomáticas, viu-se confrontado em 1940 com a ocupação francesa pelos alemães, e com Bordéus sobrelotada de refugiados que procuravam, desesperadamente, um "corredor de fuga” daquele país, sendo claro o risco de vida que corriam com a sua permanência no país.

Contudo, as ordens recebidas pelo Consulado eram claras: a Circular n.º 14, de 11 de novembro de 1939, do Ministério dos Negócios Estrangeiros português, estabelecia regras claramente restritivas de concessão de vistos e de passaporte a grande parte dos refugiados, nomeadamente judeus, exilados políticos e cidadãos provenientes de países do Leste Europeu.

Aristides de Sousa Mendes decidiu ignorar as ordens recebidas de Portugal e conceder vistos a todos os que deles precisassem, sob pena de vir a ser castigado e tendo noção de que iria colocar a sua carreira de 30 anos no serviço diplomático em perigo e que iria agravar as dificuldades económicas da sua extensa família.

Até 22 de junho, foram emitidos, no consulado português, milhares de vistos, emitindo vistos a todos os que o solicitassem até ao fim, contrariando todas as ordens que ia recebendo, emitindo os vistos mesmo na rua, até à chegada dos alemães à fronteira de Hendaye.

Após o sucedido, Aristides de Sousa Mendes foi efetivamente punido por seus esforços, acabando, com a sua família, na pobreza, totalmente destituído de funções após um processo disciplinar que o expulsou da carreira diplomática. Os seus filhos acabaram por emigrar e Aristides faleceu sozinho.

Em 1966, Israel declarou Aristides de Sousa Mendes "Justo entre Nações”. Em Portugal, Aristides de Sousa Mendes foi condecorado, a título póstumo, em 1986, com o grau de Oficial da Ordem da Liberdade e, em 1995, com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo, ambas pelo Presidente Mário Soares e mais recentemente em 2017, com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.

Em julho de 2020, o Parlamento decidiu "homenagear e perpetuar a memória de Aristides de Sousa Mendes, enquanto homem que desafiou a ideologia fascista, evocando o seu exemplo na defesa dos valores da liberdade e dignidade da pessoa humana e concedendo-lhe Honras de Panteão”.

Nesta sequência, Aristides de Sousa Mendes recebeu esta terça-feira, dia 19 de outubro, Honras de Panteão, cuja cerimónia foi presidida pelo Exmo. Sr. Presidente da República à respetiva cerimónia solene, evocando e reconhecendo o legado do português, um "Justo entre as Nações”, o homem que mudou a História de Portugal e projetou Portugal no Mundo.